25 De Julho De 2017
Tour de France: A Contagem Regressiva
Vinte e um dias. Alguns dias de descanso aqui e ali para dar aquela sensação de “Bom, eu já cheguei até aqui. Agora melhor ir até o fim”. Os que estão machucados podem não aceitar - “minha jornada não pode ter acabado” - antes que o ferimento vença e o sonho do Tour de France caia sobre as rochas da realidade. Os que restaram vestem suas roupas de Lycra e ajustam seus capacetes, dia após dia após dia. Na semana seguinte, os ânimos se acendem novamente.
Com um dia de descanso para as pernas, o pelotão acelerou até o Estágio 16, com um ritmo intenso. Infelizmente isto trouxe algumas dificuldades para Marcel Kittel, da Quick-Step, que perdeu alguns pontos de sua Camisa Verde para seus competidores. Em um ataque com força total (no qual ele não teve parte nenhuma), Kittel perdeu mais alguns pontos. Mas isso não importava - a aclamada camisa do sprinter se manteve firme em seus braços até o final do estágio. Ele, sem dúvidas, sonha em levá-la até Paris.
Mas o Tour de France não liga para os favoritos. Ele não se importa com o que você quer. Kittel pode até ter começado o dia bem, mas o Estágio 17 acabou virando o dia do alemão de cabeça para baixo. E enquanto nós estávamos esperando por fogos de artifício nas subidas - este estágio estava repleto de ganhos, incluindo o poderoso Galibier - não esperávamos que uma pequena queda fosse deixar o sonho de Kittel em frangalhos. Derrubado após apenas 20km adentro do estágio, assistimos enquanto ele corajosamente tentava voltar ao ritmo. Seu objetivo era claro: permanecer e terminar com o grupo. Mas então chegou o tweet da Quick-Step que acabou com tudo: “@Marcelkittel, de camisa verde, e vencedor de cinco estágios do #TDF2017, parou no topo da Col de la Croix de Fer.” Ele abandonou, e a glória de terminar nas estradas de paralelepípedo de Paris, de cruzar aquela linha com a Camisa Verde se perdeu de vista. Enquanto isto, um ex-saltador de esqui venceu o estágio, então ao passo que um sonho do TDF termina, outro se realiza.
Então chegamos no Estágio 18 e no Col d’lzoard. Se fosse necessário descrever o estágio em uma palavra, seria “íngreme”. O topo montanhoso dramático finaliza o último dia nas montanhas para o Tour e proporciona o que poderia ser a última oportunidade para os competidores da CG tirarem a Camisa Amarela do homem que aparentemente não a larga por nada. O Col tem 14km de extensão e tem uma média de 7%, o que garante sofrimento para todo mundo. Haviam ataques de sobra. Finalmente, um homem é lançado à frente para uma vitória solo. Dominando o cume, ele está totalmente sozinho, e sua silhueta é vista contra o céu. Em sua face não havia nenhum sinal de sofrimento - apenas pura euforia por ter não somente vencido, mas conquistado a Camisa Polka Dot para o Tour de France 2017 de uma vez por todas. Agora ele só precisa chegar inteiro em Paris, e só faltam três estágios. A contagem regressiva continua.
O Estágio 19 é o mais longo do Tour, com 222km de terrenos acidentados e planos. É um estágio longo e quente, que se passa debaixo do Sol francês. Um grande grupo se forma, se desfaz, e se forma novamente, até que, perto do final, dois ciclistas são lançados à frente. Com 2km para o fim, um ataque súbito se forma, e é incomparável. Mais um estágio, mais uma vitória solo.
Falando em solos, o Estágio 20 tem o melhor evento solo, o Contra Relógio Individual. Com início e fim no velódromo em Marseille, os ciclistas fazem uma volta de 22.5km pela cidade. Com a Camisa Amarela longe de ser conquistada, esta é uma corrida pela glória, e um jovem ciclista Polonês, Maciej Bodnar (Bora-Hangorhe) definiu o nível do estágio logo cedo. Enquanto descansava, apenas observava ciclista após ciclista - incluindo campeões mundiais de TT - falharem enquanto tentavam fazer um tempo melhor que o dele. Finalmente acaba e Bodnar vence o TT por um segundo, conseguindo sua primeira vitória no Tour. Há mais uma vitória neste dia - a Camisa Amarela está segura. Apesar de ainda restar um estágio, já praticamente acabou.
O último dia do Tour é como um grande desfile de vitória, seguido de um último sprint. O dia começou como de costume, com risadas e comemorações e homens em bikes tomando champanhe em taças de plástico enquanto pedalam pela área rural da França. O ritmo é moderado e sonolento - para eles, pelo menos - e apenas quando chegam em Champs-Elysées começam alguns cochichos de que eles devem, talvez, correr um pouco. É um estágio de sprinters, e com 5km restantes, Zdeněk Štybar da Quick-Step liga sua ignição e resolve atacar. Mas ele atacou cedo demais, e se viu com 2.5km restantes quando todos os sprinters se juntaram na frente. A corrida vira uma luta tradicional de sprinters e então, finalmente, o Tour de France acaba.
O Tour de France é uma longa jornada para todos, mas é difícil não amá-lo. Com todo o drama deste ano, seria fácil ter apenas desistido. Mas são os fogos de artifício que amamos. São dos fogos de artifício que não conseguimos tirar os olhos conforme reagimos às festividades. Cada estágio é decidido em um instante de glória. Um homem surge na frente e o reivindica, às vezes em um solo impressionante sem ninguém por perto, outras vezes com um sprint na hora certa ou apenas com pura força e determinação. Fogos de artifício. Um ciclista, machucado e destruído, pedala porque não quer desistir, porque o Tour é o Tour. Outro é eliminado, nos fazendo erguer os punhos aos céus e escolher um lado. Fogos de artifício. Um homem fino e pequeno ataca em uma subida tão íngreme de forma que os outros parecem estar indo para trás. Fogos de artifício. Já estamos na contagem regressiva para o ano que vem, quando poderemos fazer tudo isto de novo. Por que? Por causa dos Fogos de Artifício.